quarta-feira, 19 de novembro de 2008

uma proposta para trilha de imersão


roteiro de passos,
um após outro,
percorrendo trilhas urbanas

multidão de formigas apressadas subindo e descendo, subindo e descendo, rolando escadas abaixo e acima, entrando e saindo de portas automáticas. seis da tarde, são paulo, estação da sé. as formigas andam em rebanho para dentro e para fora, correndo atrás de.

mapas distribuídos pela cidade informam a necessidade de se saber onde, e para onde.

olhares semi-vivos se cruzam apressados.
cada um é um si só a procurar um silêncio qualquer.

subterfúgio da agonia urbanóide esquizofrênica: o tempo não pára.

a voz anuncia o lugar do humano na cartografia, e não na climatologia:
“próxima estação...”

casacos nos abrigam do frio, da rispidez cotidiana, da exposição do corpo, do toque alheio. casacos e guarda-chuvas são proteções (des)necessárias à sobrevivência de um ser nu, recém-nascido para o rebanho de formigas.

é preciso demarcar lugares, traçar rotas de imersão, permitir sensações orgânicas de espasmo, afronhar-se no outro e respirar algo mais que a quota de poluição gratuita.

é preciso propor desmanches de palavras duras, de expressões ensimesmadas.

é preciso provocar afecto e permitir ser afectado para amassar o concreto e o cinza das estruturas.