Paulo disse: “nos tornamos um espetáculo (teatro) ao mundo” (1 Co 4:9).
São Paulo, a cidade, parafraseia o apóstolo que deu origem ao seu nome.
eis o espetáculo:
o crime contra-ataca. uns sem números de mortos. rebeliões, em série, nos presídios do Brasil. medo. insegurança. as caras lavadas. os discursos vazios.
as emissoras de TV ampliam a tragédia. tragédia pouca é bobagem.
no mais, briga de vizinhos: siglas presidenciáveis. atitude, atitude mesmo: o povo escondido, aterrorizado.
onde fica, um amigo indagou, nossa revolta de cidadão? na letra torta do monitor? na fala morta no meio da multidão?
(e mesmo pergunto novamente: como nos rebelar de forma pacífica contra esse país de ladrões engravatados que não sofrem bloqueio algum?)
sábado, 20 de maio de 2006
sexta-feira, 12 de maio de 2006
à mulher que matou os peixes
perdoe-me, Clarice, eu não sei o que faço
perdoe-me o uso indevido do teu nome e das tuas palavras
perdoe-me por não ter matado antes da necessidade de gritar
e na pressa ter vestido o corpo cru de muros e filipetas promocionais
perdoe-me a falta de ar, o excesso de paixão
perdoe-me pela verdade explícita, pelo medo de ser feliz
perdoe-me por adorar essa angústia que me devora
(oração da escrita tortuosa)
perdoe-me o uso indevido do teu nome e das tuas palavras
perdoe-me por não ter matado antes da necessidade de gritar
e na pressa ter vestido o corpo cru de muros e filipetas promocionais
perdoe-me a falta de ar, o excesso de paixão
perdoe-me pela verdade explícita, pelo medo de ser feliz
perdoe-me por adorar essa angústia que me devora
(oração da escrita tortuosa)
quarta-feira, 10 de maio de 2006
o deslocamento
a novidade grita à porta de passagem. um barco ancora no quintal, possibilidade de deslocamento. a ilha: itaparica. ventania. o coração agita com a maré. pesco frases antigas, discursos falidos. no meio do mar: o cartão postal.
-Salvador, não me salve, por favor! É preciso naufragar vez em quando vida.
lá no fim da paisagem: calor de cidade, agitação de olhares comezinhos, buzinas, fumaça... cá na água escura, chovida, areia e pedra discutem o futuro do Brasil.
- o futuro é o presente – exclamo!
rostos furiosos viram-se contra mim. e me abandonam como a uma leprosa que espera a morte. não é verdade, não há verdade. exceto a mentira do tempo exposta nas feridas e na cicatrização delas.
como diria meu amigo imaginário baiano:
- na real, nossas alegrias são tão frágeis quanto nossas piores tristezas. não há muito que se fazer aqui, a não ser desordenar nossas possibilidades de saída.
domingo, 7 de maio de 2006
o descomeço
(início tem cara de domingo
céu cinza, algum frio
dores de parto
sensação de alegria)
esfregar o nada para sair qualquer coisa
depois a coisa anda sozinha
e desanda
desandar é o que realmente importa
desprender-se, desapegar-se, desfazer-se
romper as trilhas
desconstruir os caminhos
entre um fio e outro
ser fio-fragmento da teia
entre as fronteiras
no entre da própria coisa
estilhaçar-se
propor fagulhas, cacos, ruídos
desterritorializar os laços
transeunte dos próprios passos
a andarilha
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